segunda-feira, 17 de outubro de 2011

De moto pela América do Sul


De moto pela América do Sul
Ernesto Che Guevara

O livro que inspirou o filme “Diários de Motocicleta”, de Walter Salles

Elaborado por Ernesto Che Guevara, em forma narrativa, graças às suas anotações detalhadas, é o relato da viagem feita por Che e o seu amigo Alberto Granado, desde Argentina até a Venezuela, em 1952.

Aventura e emoção entremeadas de reflexões sobre múltiplos aspectos da América, a miséria dos índios, o espanto de conhecer o mar, o mundo percebido pelos olhos de um jovem de 23 anos, disposto à surpresa e à compaixão, mas também querendo descobrir sua verdadeira vocação, aproveitar a vida, enamorar-se verdadeiramente.

Tudo isso enquanto a moto segue pelas estradas poeirentas e arriscadas, perdendo peças pelo caminho, provocando tombos e episódios tragicômicos. Esta edição traz também um roteiro detalhado da viagem cartas, mapas e fotos tiradas pelo próprio Che, além de um resumo biográfico. A vida de Ernesto Che Guevara (1928-1967) e sua experiência político-revolucionária são do conhecimento de todos.Menos conhecida é sua juventude – seus pensamentos e aventuras desta época, apresentados neste livro. Sem dúvida, um capítulo fundamental para a compreeensão de sua figura. O companheiro de andanças de Che, Alberto Granado Jiménez, nasceu em Córdoba, Argentina, em 1922. Em 1948, depois de anos de militância estudantil e de uma temporada na prisão, formou-se em Medicina e passou a se dedicar à pesquisa científica. Depois do triunfo da revolução, reuniu-se a Ernesto em Cuba, onde ocupou posição no Ministério da Saúde. Alberto Granado vive até hoje em Cuba, respeitado por seu trabalho e dedicado política.

“A pessoa que está agora reorganizando e polindo estas mesmas notas, eu, não sou mais, pelo menos não sou o mesmo que era antes. Esse vagar sem rumo pelos caminhos de nossa Maiúscula América me transformou mais do que eu mei dei conta.(…) A menos que você conheça as paisagens que eu fotografei em meu diário, será obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu o deixo em companhia de mim, do homem que eu era…”
Ernesto Che Guevara

Na garupa de uma moto, rumo à desconhecida América, este é o retrato exato do momento em que começa a se formar um mito. E, ao mesmo tempo que descobrimos indícios do grande revolucionário que iria se revelar, lemos o relato de um jovem como qualquer um de nós: pé na estrada, mochila carregada de sonhos.

Leia um trecho:

DIÁRIO DE VIAGEM
ESCLARECENDO AS COISAS…

Este não é um conto de aventuras nem tampouco alguma espécie de “relato cínico”; pelo menos, não foi escrito para ser assim. É apenas um pedaço de duas vidas que correram paralelas por algum tempo, com aspirações em comum e com sonhos parecidos. Durante o transcorrer de nove meses, um homem pode pensar em muitas coisas, desde o mais alto conceito filosófico até o desejo mais abjeto por um prato de sopa – tudo de acordo com o estado de seu estômago. E se, ao mesmo tempo, esse homem for do tipo aventureiro, ele poderá viver experiências que talvez interessem às demais pessoas e seu relato casual se parecerá com este diário.

Assim, a moeda foi lançada e girou no ar; às vezes apareciam caras, às vezes, coroas. O homem, que é a medida de todas as coisas, fala através de mim e reconta por minhas palavras o que meus olhos viram. De dez caras possíveis, eu talvez só tenha visto uma única coroa, ou vice-versa: não há desculpa; minha boca fala o que meus olhos lhe disseram para falar. Teria nossa visão sido estreita demais, preconceituosa demais ou apressada demais? Teriam nossas conclusões sido muito rígidas? Talvez, mas é assim que a máquina de escrever interpreta os impulsos desbaratados que me fizeram pressionar as teclas, e esses impulsos fugazes já estão mortos. Além disso, ninguém pode responder por eles. A pessoa que tomou estas notas morreu no dia em que pisou novamente o solo argentino. A pessoa que está agora reorganizando e polindo estas mesmas notas, eu, não sou mais eu, pelo menos não sou o mesmo que era antes. Esse vagar sem rumo pelos caminhos de nossa Maiúscula América me transformou mais do que me dei conta.

Qualquer manual de técnicas de fotografia pode mostrar uma paisagem noturna com a lua brilhando no céu e um texto ao lado que revele os segredos dessa escuridão iluminada. Mas o leitor deste livro não sabe que espécie de fluido sensitivo recobre minha retina, eu próprio não o sei com certeza, então não é possível examinar os negativos para encontrar o exato momento em que minhas fotos foram tiradas. Se eu mostrar uma foto noturna, você, leitor, é obrigado a aceitá-la ou recusá-la por inteiro, não importa o que pense. A menos que você conheça as paisagens que eu fotografei em meu diário, será obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu o deixo em companhia de mim, do homem que eu era..

Nenhum comentário:

Postar um comentário